Histórias de Moradores de Governador Valadares

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores da cidade.


História da Moradora: Leda Faustino Costa
Local:
Minas Gerais
Data da Publicação: 20/12/2004

História de Vida

História:

P - Para começar eu queria que você se identificasse, porque isso é um depoimento, então, quero que você diga o seu nome, data de nascimento.

R - Está ok, pode começar?

P - Pode falar.

R - Meu nome é Leda Faustino Costa, nasci em 03 de agosto de 1969, em Governador Valadares, Minas Gerais, tá?

P - Está certo, seus pais, como é que é o nome dos seus pais?

R - É, eu sou registrada em nome dos meus avós, mas a minha mãe chama Nice Faustino da Costa, meu pai Antônio Carlos Schetino.

P - Schetine?

R - Schetino, italiano.

P - Schetino?

R - É.

P - É, com S mudo?

R - É, sche.

P - Sch, está certo.

R - Aí de Governador Valadares não lembro, muito pouco e de Minas também, muito pouco, porque eu morei mais aqui em Brasília.

P - O que você sabe dos seus pais, ou dos seus avós?

R - Dos meus avós, eu conheci só minha avó.

P - Você conheceu só sua avó?

R - Só minha avó materna, é, porque o meu avô, eles se separaram eu nem lembrança eu não tenho, eu conheço só a minha avó, ainda cheguei a conhecer.

P - E o que é que você conhece da história da sua avó, ela é de onde...

R - A minha avó também é de Governador Valadares, que eu sei da história deles, é que, foi um casamento arrumado, assim eu tinha, o meu bisavô, tinha um filha, o meu bisavô tinha um filho, aí resolveram juntar os dois e casar, mas nunca que deram certo, tiveram um filho que é a minha mãe e eles se separaram, a minha avó ficou com a minha mãe criou e o...

P - Eles faziam o que, eles, a sua avó fazia o que?

R - Eram fazendeiros, na época.

P - Ah, eles eram fazendeiros?

R - Eles eram fazendeiros, a minha avó que era fazendeira e eles tinham sítio, viveram muitos anos, depois resolveram mudar, porque não davam certo mesmo, se separaram e minha avó ficou com o sítio.

P - E eles tiveram quantos filhos?

R - Só um, minha mãe é filha única.

P - A sua mãe, é filha única?

R - É filha única, eu, minha mãe, depois de muitos anos, quando teve notícia que ele faleceu, ficou sabendo que ele casou de novo, que teve outros filhos...

P - Seu avô?

R - É, mas não chegamos a conhecer, nada, não temos notícia de nada, minha avó faleceu também.

P - Sua avó faleceu quantos anos você tinha?

R - Eu morava no Rio, eu tinha na época, acho que 6 anos de idade, 5 ou 6 anos de idade.

P - Mas, você foi registrada pela sua avó?

R - É, na época, é, o motivo, eu também não sei, o porquê.

P - Seus pais, chegaram a se casar?

R - Não, eles não são casados, oficialmente, não, oficialmente não, vivem até hoje...

P - E eles vivem até hoje?

R - Até hoje vivem, mas não casaram oficialmente.

P - Vai ver que isso é a fórmula certa?

R - É, deu certo, vamos ver, eu também sou casada oficialmente e vai levando, vamos ver se dá certo, né, aí em Patinga...

P - Então, você cresceu em Patinga?

R - Em Patinga.

P - Não em Governador Valadares?

R - Não.

P - Você sabe porque a sua família mudou de Governador?

R - Foi, porque meu pai tinha uma oficina em Patinga e ele era mecânico, aí a minha mãe ficava, ia sempre, direto na casa da minha avó, porque ela era sozinha, mas ele tinha oficina e tinha que ficar lá, minha mãe, logo engravidou da minha irmã, aí teve que ficar mais, teve mais quatro, cinco filhos, aí não dava muito para ficar em Governador Valadares.

P - Você, é a mais velha, então?

R - Não, eu tenho um irmão mais velho.

P - Um irmão mais velho?

R - Eu tenho um irmão mais velho.

P - Então, você foi registrada pela a sua avó, mas você não foi criada por ela?

R - Não, o meu irmão foi, o meu irmão mais velho foi criado pela minha avó, assim que ela faleceu, ele veio morar com a gente.

P - E você sabe se os seus pais, a sua avó, se eles viveram sempre em Governador Valadares, eles são dali?

R - Sempre.

P - É, família...

R - Morava ao redor, porque Governador Valadares, é uma cidade grande, mas morava em fazendas, né, uma fazenda...

P - Eles tinham terra, ou trabalhavam...

R - Não, tinham, tinham terra na época, se não me engano, é Ibaporanga o nome.

P - Ibaporanga

R - Ibaporanga, eu acho que era, acho que era o único, há pouco tempo faleceu um tio dela lá, é Ibaporanga, mesmo.

P - Sei e a sua avó, tinha muitos irmãos?

R - Minha avó tinha, parece que são quatro irmãos, quatro, ou cinco irmãos, acho que é mais ou menos isso, houve até um problema lá, porque tinha essa fazenda, fazenda antiga, muito grande, aí falsificaram, quando a minha avó faleceu, falsificaram a assinatura dela e venderam a fazenda, isso foi parar na justiça, tem até hoje está rolando aí.

P - Esses rolos de herança?

R - Foi, rolo de herança, porque a minha avó faleceu e no caso seria a minha mãe para receber.

P - Que é a única né?

R - Era a única, filha única, aí e teve um outro tio dela também, que perdeu, eles falsificaram a assinatura e venderam, e aí está na justiça ainda, não rolou nada e isso está rolando, tem o que, quase 2 anos que isso está rolando na justiça, isso.

P - E do seu pai, o que é que você sabe da história da família dele?

R - Que eu sei, ele teve pai italiano, também já faleceu, minha avó, é viva, mora em Caratinga? Viveu a vida toda em, ele nasceu em Caratinga, Minas Gerais, isso eu sei, aí, tinha oficina em Patinga.

P - Ele sempre foi mecânico?

R - Sempre foi mecânico, hoje ele é aposentado, sempre foi mecânico, desde criança, minha avó teve, por parte paterna, teve nove filhos, todos vivos, aí meu avô teve câncer de garganta e já tinha alguns irmãos dele que moravam aqui em Brasília e trouxe ele para fazer tratamento aqui, aí, todos os filhos vieram, nós fomos uns dos últimos a mudar para Brasília, por causa dele, aí, veio todo, só ficou um irmão dele em Caratinga, que é o mais velho, em Caratinga, a família, o resto da famíliatodinho veio para cá, aí, ele veio a falecer...

P - Então foram os seus avós paternos, que puxaram a família. Como era o nome deles?

R - É, João Schetino que é italiano, e a Odete Miranda Schetino, minha avó, mãe dele.

P - Sei, sei, não sei se você falou o nome da sua avó materna?

R - É Francisca, Francisca Beiron da Costa.

P - Certo.

R - E do meu avô materno é Antônio Beiron da Costa.

P - Que você não conheceu?

R - Não conheci, não cheguei a conhece - lo, nem tenho lembrança, que era muito pequena, né?

P - Bom, e o que é que você lembra, quais são as suas memórias de infância assim, o que é que você se lembra assim?

R - De infância, me lembro de, da praça em Caratinga, eu gostava muito, me lembro, era muito bonita, me lembro (de Governador Valadares de algumas vezes, eu visitei, me lembro da, do sitio da minha avó, de um rio que passava assim, dentro do sitio, eu me lembro, inclusive houve uma enchente, nessa época eu estava lá, eu em lembro, porque o rio é muito perto, próximo da casa, houve enchente e alagou tudo, (___ tudo?), me lembro disso, me lembro muita pouca coisa, me lembro assim, da praça.

P - Das brincadeiras...

R - Das brincadeiras, é, da escola, me lembro muito de uma escola, que era em um morro, bem alto, longe para caramba.

P - Foi onde você estudava?

R - Onde eu estudava, até os 8 anos de idade, estudei lá era Luís...

P - Você fez o primário logo, a unidade certa?

R - É, eu ainda me lembro o nome da escola, era Luís Bastos era até um, colégio de freira, mas era ótimo o colégio, o colégio era enorme, ia até reformar, mas na época da reforma que era para eu voltar, foi a época que eu me mudei, para Ipatinga, para Ipatingaeu me lembro que eu morava assim na casa, sabe aquela rua que passa lá em cima e a casa assim, lá embaixo, aquelas escadas enormes, lá para baixo, me lembro, de lá me lembro de um rio também, quando o meu irmãozinho caçula (entrou no rio e quase foi afogado?), eles foram tomar banho, e tomando conta dele que a minha mãe trabalhava, até na época que ela tinha essa boutique, que eu falei que eu trabalhava nela.

P - Aquela que trabalhava com roupa mista?

R - É, aí, (eu estava com ele que eu trabalhava com minha mãe? e ele ficava tomando conta do meu irmão caçula, eles foram tomar banho no rio, deixamos o menino cair dentro do rio (riso), quase morreu afogado, me lembro, e me lembro da boutique da minha mãe, quando eu trabalhava e nós sempre moramos nessa casa, dessa casa, a gente veio para, para cá, para Brasília. P/ 1 - E a vida era muito dura, Leda, os seus pais tinham muita dificuldade?

R - Não, em Minas era mais fácil do que aqui, me lembro, meu pai tinha oficina própria, ele era o dono, era sócio com um primo dele.

P - Sei.

R - E ele era, ainda é um excelente mecânico.

P - Qualquer carro...

R - Qualquer carro, ele arrumava, carro, caminhão, tudo, daí lá ele era dono, era patrão, aí vendeu tudo para vim para cá, chegou aqui, ele foi, trabalhar para os outros, inclusive (___, você conhece a Tagoalto?)

P - Não, não conheço não.

R - A Tagoalto uma grande...

P - Concessionária?

R - Concessionária, aqui em Brasília, uma das maiores, o deputado trabalhou nela, 16 anos.

P - Aí, foi empregado?

R - Foi empregado, ele pediu conta, eles inclusive eles estão atrás dele para ele voltar, porque ele é o melhor mecânico que tem lá, mas ele disse que não volta não, porque ele está cansado de trabalhar de mecânico. Ah, de Minas o que eu me lembro é isso, muito pouco, nunca mais voltei...

P - Quer dizer, apesar de, de, a, não era assim uma vida de rico, mas era uma vida estável, vocês tinham...

R - Era, mas muito mais estável, por exemplo, porque lá em, aqui em Brasília, a gente veio morar de aluguel...

P - Lá, vocês tinham casa?

R - Tinha casa, oficina própria, minha mãe trabalhava, tinha boutique, quer dizer, lá vendeu tudo para vir para cá.

P - A boutique era dela?

R - Era da minha mãe, a boutique era dela e eu tomava conta, e ela vendia também externo, tinha vendedores e ela viajava, para buscar e eu ficava mais tomando conta, trabalhando de balconista e lá era dela também e meu pai tinha a oficina que era dele e o sócio, vendeu tudo para vir para cá.

P - Abriu mão de ser dono para ser empregado?

R - Ser empregado, a minha mãe, foi trabalhar em feira, tinha barraca em feira, é para começar tudo de novo, comprar as coisas, aí nós mudamos para uma casa, mais para cima, em Taguatinga, compraram essa chácara, a prestação, na época começou a lotear, aí a gente mudou para cá, para essa chácara assim , improvisado, para sair do aluguel, improvisou lá um barraco, mudamos e aos poucos foi construindo a casa, reformando a chácara, deu a dificuldade da distância do emprego, meu pai veio de Taguatinga para aqui, para vir todo dia e minha mãe também trabalhando em Taguatinga, até que ela cansou e largou, aí, montou um mercadinho na chácara, ela tem o mercado até hoje na chácara.

P - Onde é que fica a chácara?

R - Aqui na vendinha, perto de Braslândia, de Braslândia para ela são 7 quilômetros para a chácara, pertinho, mais perto do que daqui para Padre Bernardo, são quase 70 quilômetros.

P - E você se lembra assim, de muito problema de saúde, na sua infância?

R - Não.

P - De pessoas, ou alguma epidemia, alguma coisa que tenha acontecido, que marcou?

R - A única coisa que me marcou, foi na época que morava em Caratinga, Sarampo, teve uma epidemia de Sarampo, isso eu me lembro...

P - Então todo mundo foi vacinado?

R - Não, ih, isso teve assim, isso não me lembro, eu me lembro que todo mundo, sabe, que todo mundo pegou Sarampo, em casa todo mundo pegou e eu tive, muito, mais muito mesmo, que me deu muita febre, me lembro que eu fui no hospital, porque, deu demais, sarampo nessa época, todo mundo morria de Sarampo, isso eu me lembro, única coisa, lá em casa graças a Deus nunca teve problema de saúde, só o meu avô, que teve câncer, depois disso, problema de saúde, só o meu irmão mais velho, há um pouco tempo que ele teve problema de saúde, só, nunca mais teve problema de saúde.

P - Que problema ele teve?

R - Ele teve, pneumatite.

P - Pneumatite, é um tipo de pneumonia?

R - É uma pneumonia e um vírus, atacou a pneumonia, o vírus da hepatite, aí ele ficou gravemente, foi parar , inclusive o médico, teve um erro médico, o médico, nisso, diagnosticou que ele estava com tuberculose, levou ele para o isolamento, aí, teve um problema um médico especialista, chegou e disse que ele não tinha tuberculose, que esse médico devia ser expulso, porque ele poderia contrair a doença, porque ele estava junto com os doentes e ele não tinha essa doença, aí, ele ficou na U.T.I. ele ficou muito ruinzinho, porque ele estava correndo risco de vida, mas graças a Deus ele melhorou aos poucos, passou 15 dias internado, foi o único também que esteve internado na minha família, foi ele, nunca ninguém internou.

P - A maioria tem boa saúde?

R - Graças a Deus, nunca ninguém foi internado.

P - Bom , vocês vêem então para cá, você vem acompanhando a sua mãe, seus irmãos todos?

R - Todos os irmãos.

P - Menos o mais velho?

R - Menos o mais velho.

P - E aí, passam a morar nessa chácara, aqui em, vendinha, né?

R - Isso, vendinha.

P - E aí, você se casa?

R - É, muito tempo depois eu me casei, eu cheguei com 17 anos e me casei com 21 anos.

P - Você se formou aqui então?

R - Me formei em Braslandia.

P - Em Braslandia?

R - É.

P - Morando aqui ?

R - Morando na chácara, estudando em Braslandia, porque era mais perto e aqui parece que há pouco tempo também, que tem 2º grau, porque antes não tinha, na época que eu estudava mesmo, tinha várias moças que estudavam lá, porque aqui não tinha o 2º grau.

P - Quer dizer, Braslandia, lá na vendinha, é mais perto Braslandia, do que aqui?

R - É, muito mais, nem se compara, lá, Braslandia, são 20 minutos de carro, ou de ônibus e aqui é uma hora, de ônibus, de carro, 40 minutos.

P - E você veio morar aqui, porque você se casou, com alguém daqui?

R - Não, eu já vim morar aqui com os meus pais.

P - Aqui em Padre Bernardo?

R - Não, eu não moro aqui em Padre Bernardo.

P - Ah, você não mora?

R - Eu moro lá na chácara, na área rural.

P - Está certo, agora que eu estou me situando.

R - A menina, a outra que está aí fora é que mora aqui em Padre Bernardo é cidade, eu moro na área rural.

P - É que lá já é do município de Padre Bernardo?

R - É, do município de ...

P - O município é grande hein?

R - Enorme, grande demais, demais, demais, tem passa 30, Nossa Senhora, lá, quase dentro de Braslandia, rio Verde é praticamente dentro de Braslandia e é municipio de Padre Bernardo

P - Nossa

R - É.

P - E a cidade é pequenininha e você acha que o município é pequeno.

R - É, mas não é, é enorme, enorme mesmo, dentro da minha área existe, quer ver, Santa Barbara, Tapetiva, das Perdizes, existe cinco loteamentos dentro da minha área, fora o Lotealto, que é um outro separado, que é lá no morro, lá em cima, é enorme. P/1 - E do que é que vive o pessoal lá da sua área?

R - A maioria trabalha fora em Brasília.

P - Sempre, trabalhando como empregado em Brasília?

R - Sempre, a maioria.

P - Não tem nenhum cultivo, não tem área...

R - Tem, tem, mas muito poucas.

P - Produção agrícola?

R - Tem muito poucas, quer ver, tem na beira da, quando você veio para cá, você viu na beira da estrada, não viu?

P - Hum, hum.

R - Pois então, porque não há, algumas pessoas trabalham, mas são áreas pequenas, não são áreas grandes.

P - Sei, sei.

R - Quer ver tem três, deixa eu ver, não, quatro, quatro áreas, que é do Agnaldo, do Caquinho, do Cacau, do Alberto e do Colombino?. Cinco, cinco áreas de plantio, não é, não são áreas grandes.

P - Bom e você então, faz o 2º grau, aí você já tinha trabalhado com a sua mãe lá na, lá atrás...

R - É.

P - Na boutique, que era dela, aí depois você vem para cá você trabalhou onde?

R - Eu trabalhei, quando eu vim para cá, eu trabalhei, primeiro como professora, eu não tinha terminado o 2º grau ainda não, estava estudando na época, lecionava a 3º série e a (inaudível)de adultos a noite. Aí, a (inaudível) de adultos eu só estava cobrindo uma professora que estava gestante, no período de licença dela, aí ela voltou, continuei lecionando na 3ª série, depois, eu não tinha o 2º grau ainda, aí quando teve, como a cidade era direitinha só quem tivesse o magistério, eu não tinha fazia contabilidade eu saí , foi na época que eu me casei, eu me casei, continuei morando na chácara, eu levei meu menino, meu menino, aí eu comecei a trabalhar como secretaria.

P - Naquela empresa de, frigorífero, é isso?

R - Não, batedouro.

P - Há, batedouro?

R - Batedouro, ali na vendinha também, batedouro, assim que começou, eu fui uma das primeiras contratadas lá, eu trabalhei lá durante 6 meses, foi quando eu engravidei de novo da minha segunda menina, aí, eu saí.

P - Você conheceu seu marido lá mesmo, na área rural.

R - Aqui, é, na região.

P - Ele é de Braslandia?

R - É, ele é de Brasília, morava em Brasília, nasceu aqui, aí eu engravidei da menina e foi na época, não, antes de eu engravidar dela, eu fiz aqui a seleção para o PACS, passei e comecei, fiz o curso, o programa todo, tudinho e comecei a trabalhar, foi aí que eu engravidei da minha menina.

P - Então aí, você fez dois cursos de PACS, de novo tendo filho, porque ter filho, já é um curso de PACS, também.

R - Já, (riso) segundo curso né, aí foi quando eu trabalhei, também grávida trabalhei, ganhei a minha menina, fiquei quatro meses parada, continuei trabalhando no PACS até hoje.

P - Então, você já tem de PACS...

R - Vai fazer três anos em Setembro.

P - Três anos. R - De agosto para setembro, vai fazer três anos, tempo para caramba, né?

P - Então, você já tem muita história para contar também do PACS, né?

R - Tenho, nossa Senhora.

P - Como é que foi, no início, assim, porque você, quando entrou no programa, como é que foi assim, a sua seleção, você veio e se inscreveu, alguém te indicou?

R - Não, não, eu estava em casa, aí chegou a Dora, que é uma enfermeira daqui que na época era coordenadora do PACS, chegou lá em casa com o meu comércio, né, ela queria colocar lá o cartaz para divulgar, aí minha mãe me chamou, a coordenadora me explicou, que era a seleção do PACS para agente de saúde, falou que tinha que ter acima de 18 anos, soubesse pelo menos ler e escrever e que morasse no mínimo, três anos dentro da área, que fosse trabalhar. Aí eu falei que eu ia me inscrever também e ela pediu para mim que divulgasse também para as pessoas que quisessem, se inscrever para mim fazer a inscrição, preencher que ela viria buscar. Ela veio marcou o dia da prova, aí eu convidei as pessoas, elas que inclusive vieram comigo, as meninas, que foi, até a Lúcia que é agente e a Odete, são essas três que vieram e nós, no dia que nós chegamos aqui, estava marcado para a prova começar, 9: 00 hs da manhã, só que nessa época, não tinha hora certa de ônibus e o ônibus atrasou e nós chegamos aqui, já era 9 e meia da manhã e a prova queria, já tinha se encerrado, a prova era super rapidinho, prova muito fácil, aí chamamos a Dora, ela já veio brigando com a gente, falando: "Isso é hora de chegar, que já tinha acabado." Eu falei assim: "Ó, nós não podemos fazer nada.", a gente explicou que tinha sido um ônibus que quebrou, e atrasou, não foi culpa nossa, não tinha outro ônibus, não tinha como chegar mais cedo, aí ela pegou e eu falei assim: "O problema vai ser seus, porque só tem nós três da área, a área vai ficar sem agente, porque não veio ninguém fazer prova, nós vamos embora, tudo bem." Ela pegou, foi lá fora conversou com as meninas de Brasília, acho que era a Ana Cristina, se não me engano, como só tinha a gente, ela pegou separou, pegou uma sala separada e resolveu fazer a prova para a gente, aí, nós três passamos na prova escrita, aí teve a prova oral, aí fui só eu a escolhida. Aí, marcou um dia para mim vir aqui, não me lembro mais o dia, faz tanto tempo, foi em agosto, aí veio, para marcar o curso, esse curso foi um problema, nossa Senhora.

P - Por que?

R - Porque na época, tinha que vir todo dia, o curso começava as 8:00 da manhã acabava as 5 da tarde, só que eles não davam a passagem, e a passagem assim, interestadual é super cara, eles não pagavam a passagem, não davam almoço.

P - Era interestadual?

R - Ainda é, até hoje interestadual a passagem.

P - Ah, é?

R - É interestadual, porque sai de Brasília, para Goiás, é interestadual, daí ele todos...

P - É muito engraçado, porque é tão perto né?

R - Tão perto e um dia desses nós ficamos sabendo, que eles cobram essa passagem como se a estrada fosse de chão, por isso que ela é tão cara e nunca ninguém foi lá dizer que a estrada é asfaltada e até hoje cobra- se passagem de estrada de chão, por isso que é tão caro e paga 11 reais, a passagem.

P - Nossa

R - Dali aqui, para você ver, é muito pertinho, pagando passagem, ida e volta todo dia, esse curso durou, dez dias, não conhecia ninguém aqui das agentes, que eu moro lá, não conhecia quase nada de Padre Bernardo, na época aí, vindo todo dia pagando almoço, pagando passagem, porque nessa época, meu marido tinha começado a trabalhar pouco, a gente estava em uma situação um pouco difícil, tinha época que eu não tinha como trazer dinheiro para comprar almoço, trazia um lanche de casa, só lanchava, passava o dia inteiro só com um lanche, prefeitura não pagava nada, ficava o dia inteiro sentado ouvindo, era só teoria sabe, o dia inteiro na cabeça da gente, aquele negócio, a gente ficava cansado, senta, levanta, tinha uma menina, que inchava as pernas de tanto ficar sentada, foi horrível nessa época, os primeiros dias, aí tá, terminamos o curso, ela deu material, as fichas de cadastro para a gente cadastrar, também foi só, só deu a ficha de cadastro, aí nós começamos a trabalhar, casa em casa, inicio né, tem as pessoas, vai perguntar, por que é que é isso, o que é que você vai dar para a gente, eles só queriam saber o que é que a gente ia dar para eles, eles não queriam saber de fazer a ficha não, "Não, isso aí não é nada, isso aí é política.", porque isso caiu bem na época da política.

P - O que é que era que estava acontecendo?

R - Era eleição...

P - Era eleição?

R - Era eleição, bom, para que na época, meu Deus do céu, prefeito de Padre Bernardo, era , se não me engano, Salim não, Farias?

P - Sei.

R - Candidato a prefeito, aí, o pessoal confundiu isso com, se ele estivesse fazendo campanha política e não recebia a gente bem, tinha vez que recebia a gente no sol quente lá fora não deixava nem entrar era horrível, aí chegando aqui, porque todo mês a gente tem que entregar o relatório, (do que trabalhou e produção, aí chegava aqui para receber, no dia de receber é o dia de entregar o relatório, cadê o pagamento? Nada, "Não sei o que, que o PACS atrasou, que é o primeiro mês.", tudo bem continua trabalhando, segundo mês é a mesma coisa, isso a gente pagando passagem, vindo em encontro direto, reunião, a gente pagando passagem, mesmo jeito, sem almoço,ficava dia interio sem almoço, vinha na reunião, dizendo como é que foi, tudo explicando o que aconteceu durante o mês, ficamos sete meses sem receber, nada.

P - Vocês estavam contratadas?

R - Contratadas, não, nessa época, não estava, estava contratada assim de boca.

P - De boca?

R - De boca, porque não tínhamos assinado nada ainda e estava nessa confusão, porque o secretário não sabia como, que jeito ia ser esse contrato, não tínhamos comprovante de nada, que a gente tinha feito curso, nada e dava uma briga danada, foi uma confusão danada, aí, o Farias na época resolveu, na época o salário era 70 reais, deixa eu ver, é, 70 reais, aí ele pagou no final do ano, do bolso dele para a gente, 70 reais em dezembro, e ficou esse rolo, sem contrato até fevereiro do ano seguinte, quando foi em fevereiro aí, fizeram o contrato.

P - Começou então quando?

R - Começamos em, agosto nós fizemos o curso, mas começamos mesmo em setembro, a tarbalhar, mas em agosto nós fizemos o curso, em fevereiro, foi que assinou o contrato, aí nós fomos receber os atrasados.

P - Sete meses?

R - Sete meses, 3 X 7, 21 né, 7 meses maisdois, janeiro e fevereiro, nove meses, foram 200 ia dar 300, não lembro direito quanto que era, 300 e pouco, só que o prefeito resolveu cobrar da gente, os 70 reais que ele tinha dado, aí descontou, todo mundo foi descontar o cheque, o cheque (veio prontinho?), descontou no Banco do Brasil, aí tinha que voltar para assinar o contrato e devolver so 70 reais que ele tinha pago para a gente e todo mundo teve que devolver os 70 reais que ele deu, quer dizer, não deu, ele emprestou.

P - É, empréstimo.

R - Ele não deu, empréstimo, devolveu os 70 reais, recebeu, tudo direitinho. Aí, saiu a Dora, a Dora era uma pessoa super legal, mas ela não, ela dava material para trabalhar, você ia, trabalhava como quizesse.

P - Como é que funcionou esses primeiros meses aí, quer dizer, você já conseguiu, se entusiasmar com o programa, entender o que é que ele pretendia?

R - Eu sempre gostei de lhe dar com as pessoas, sempre ajudar as pessoas, fazer reunião em casa, mas o que desanimava a gente era nenhum apoio, você não tinha apoio, você não recebia, trabalhava porque você queria.

P - Não claro, trabalhar sem receber, aí ninguém acha graça. (riso)

R - Ninguém acha graça, você trabalhava, porque eu gostava assim de ajudar as pessoas, porque com o tempo, você ia ensinado a pessoa, pedia para manter a casa limpa, para cuidar da criança, se a criança está ali jogada, brincando na terra, você ensinava a pessoa, com o tempo a pessoa, você está ali, passa todo o dia na sua casa, você vai...

P - Mas como é que você fazia, nessa época, você já fazia, tinha um rotina certinha, você já começou a fazer essa rotina, você saia passava na casa de tantas pessoas, como é que ficou, como é que era isso?

R - Olha, no início, a gente, eu passei de casa em casa, só fazendo cadastro e...

P - Cadastrando as famílias?

R - Cadastrando as famílias e prometendo que eu iria voltar depois, explicar, fazer visita, fazer o acompanhamento, porque nessa época nós não pesávamos as crianças, porque não tínhamos balança, a gente mesmo só fazia o acompanhamento da família, como andava a saúde da família e a casa a limpesa da casa, o quintal, etc...Aí, as pessoas já começavam a cobrar da gente, cobrava um médico ali, porque eles nunca tinham ido ao médico, cobrava remédio, cobrava a gente marcar, queria que a gente marcasse, fosse no hospital marcar consulta para eles, exigiam as coisas da gente, que a gente estivesse obrigado a dar, a gente estava trabalhando na saúde, tinha que se virar e arrumar as coisas para eles, estava super difícil e ainda trabalhava sem salário, aí já estava ficando chato, você só ia na casa da pessoa só para dar aquela, ver como é que estava a casa, falar sempre as mesmas coisas, as pessoas já estava enjoada da nossa cara, porque a gente não ia fazer nada ali, aí tá, entrou a Elaine, saiu a Dora e entrou a Elaine, nova coordenadora, a Elaine coitada, não fazia nada com nada, a gente trabalhava como a gente queria, praticamente sozinho porque quem não quizesse trabalhar, ficasse em casa sentado e no final entregar o relatório, tanto faz como tanto fez, aí, saiu ela e isso o pagamento toda vez enrolando, recebia um mês sim, outro não, um mês sim, outro não, senão, recebia atrasado, sempre atrasado. Aí entrou a Luzia, Luzia foi a salvação da lavoura (riso), foi a melhor coordenadora que nós tivemos aqui foi a Luzia, ela era fantástica, organizou tudinho, fez um outro curso com a gente, mas nisso ela fez o que, arrumou um carro, ia buscava e levava a gente todos os dias, se não buscasse a secretaria teria que dar uma passagem para a gente, arrumou almoço, a gente almoçava no restaurante, a secretaria tinha que dar almoço para a gente todo dia, a gente tinha um curso, ela levava eslaide para a gente, não ficou aquela coisa monótona, super legal e assim muito exigente, queria as fichas, explicou como fazer o cartão da criança, não tínhamos acompanhamento de cartão da criança, ensimou como a gente via, fazer o acompanhamento da criança no cartão, acompanhamento da gestante, fez ficha para gestante para a gente controlar, se a gestante era vacinada ou não, fez ficha de idoso, para a gente acompanhar as pessoas idosas que viviam sozinhas nas casas.

P - Isso não tinha?

R - Não tinha nada, você trabalhava só com a ficha de cadastro.

P - Só cadastrava a família e pronto.

R - É e pronto e você ia fazendo a visita, todo mês assim, por isso que o pessoal....

P - Fazia a visita e trazia a informação para cá como?

R - Não tinha.

P - Não tinha?

R - Não tinha, não tinha controle nenhum, sabe, você trabalhava no que queria, se você quizesse, igual eu falei, se você não quizesse trabalhar e chegar no final do mês e falar assim: "Ó, trabalhei o mês todo."como é que eles vão cobrar você, você ia provar como, sem prova, agora não, agora já ela fez, a ficha, você tem que fazer no mínimo oito visitas por dia, de oito a cinco, você vai lá e coloca o tanto de visitas, tem um bocado de item nessas fichas, item de gestante, quantas crianças, quantas gestantes você visitou, quantas crianças estavam doentes, diarréia, se morreu alguém, se não morreu, tudinho na ficha, todos os detalhes, você preenche aquela ficha todo dia e um cartaz mensal, todo mês a gente tem uma reunião...

P - Que é esse cartaz, que você faz o controle né?

R - Que é esse aqui, é, a gente faz o controle, aqui o nº de famílias que eu cadastrei e o número de visitas que eu realizei durante o mês.

P - Agora, vocês preenchem...

R - Cada uma tem uma.

P - Todos o mês, então a pessoa vai ver tudo o que você fez?

R - Tudinho, o trabalho que você fez mensal, aqui tem todos os dados, que a gente faz e não tinha nada disso, agora a gente tinha, a gente tinha a ficha que é a que manda para o ministério, que é basicamente esta aqui, o relatório mensal que a gente tem que mandar e ela está fazendo, toda semana ia em cada área, ela ia para ver como é que a gente estava trabalhando e lutava para a gente, esse material que (eu recebi?) lápis, borracha, caneta, nós nunca tivemos, tudo era tirado do bolso da gente, a gente já não recebia, ainda tinha que comprar material para trabalhar, era super difícil.

P - Então, ela entrou quando?

R - Ela entrou o ano passado.

P - O ano passado?

R - Ela entrou em janeiro do ano passdo.

P - Aí que começou a mudar?

R - Foi aí que começou a mudar, porque antes.

P - E o pagamento regularizou também?

R - Regularizou, o pagamento vinha certinho, toda reunião tinha o pagamento e ela cobrava, era uma pessoa super legal, ela cobrava, exigia demais, mas ela também, o que a gente precisasse de ajuda ela ajudava não tinha licença maternidade, quando eu ganhei a minha menina, eu, os quatro meses que eu fiquei parada, eu fiquei sem receber, quando ela entrou não, as meninas que ganharam, tiveram neném, elas receberam, os quatro meses, ela receberam, licença maternidade e ela batalhou bastante, bastante, melhorou tudo, nós recebemos essa bicicleta.

P - É, vocês não tinham nenhum equipamento?

R - Não tínhamos nada, nada, nada, balança para pesar a criança, nós ganhamos as balanças que faz o acompanhamento tipo um C. D., acompanha a criança, pesa todo mês todas as crianças, tem um cartão da criança e o nosso com o controle da gente, para ver se a criança está com o peso bom, ou peso baixo, temo programa do leite, as crianças que a gente pesa que está desnutrida, recebem leite de 15 em 15 dias, tínhamos um programa de gestante, todas as gestantes a gente fazia curso toda semana, as vezes pintava a importância da alimentação, a importância do pré - natal, como ela devia amamentar, como ela devia se alimentar e alimentar a criança, tudinho, uma vez por semana, agora que ela saiu não temos mais, o programa de gestante, faz muita falta e melhorou 100% e ela queria melhoras para a gente, melhoras, por isso foi que ela saiu.

P - Aqui tem é, ...

P - ...no hospital?

R - Não, tem um coordenador que é o enfermeiro, que vem contratado.

P - Que é o papel dela?

R - É, o papel dela e o secretário da saúde ?

P - E o secretário de saúde?

R - Que eu saiba é só, pelo menos que eu tenha conhecimento é só e mesmo assim, ela fazendo isso tudo a gente ainda tem muita dificuldade, principalmente a área rural.

P - Quais são as dificuldades que vocês tem?

R - As dificuldades porque a gente mora distante, como você pode ver, daqui para eu ir embora dessa reunião mesmo, comparando, essa reunião hoje, eram para ter avisado a gente que ia ter, no meu caso que eu tinha que vir, se ela não tivesse passado lá ontem, encontrou comigo por acaso para confirmar, eu não sabia, quer dizer, eles não tem interesse assim de informar a gente, do que é que está acontecendo aqui, se chegou a reunião, se chegou material novo, se chegou por exemplo, teve vários cursos aqui em Padre Bernardo e eu mesmo não fiz, porque a gente é sozinha, eu fiquei sendo só eu durante 2 anos, agora que entrou...

P - A única agente da região?

R - Não, da minha área.

P - Da sua área?

R - É, porque a minha área tem mais de 400 famílias.

P - A sua área é qual?

R - Vendinha I e II

P - Vendinha I e II?

R - Era Vendinha I, mas como agora dividiu com a minha colega, I e II.

P - Que fica na região sul, porque lá é que o que, norte, sul da...

R - Não, não é dividido assim, é dividido assim, área um a 17, a minha área é a nove.

P - O município todo, é dividido em...

R - Em áreas, em números.

P - E quantas áreas são?

R - São, acho que são 20 áreas, se não me engano.

P - Vinte áreas?

R - É, a minha área é a nove.

P - A sua área é a nove?

R - É, nove.

P - Mas ela fica no sul, em que região que fica a sua área?

R - Hm, aí não sei te dizer, porque nunca foi separado assim não.

P - Não sabe, tá.

R - Só assim, Vendinha I e II, área nove.

P - Está certo.

R - Nunca foi dividida, aí as dificuldades são essas, a gente fica isolada, teve vários cursos aqui e não tinha como vir fazer, porque eles não...

P - A comunicação é difícil?

R - Muito difícil, porque agora que na minha casa tem telefone, porque lá é um posto telefônico, não é na minha casa, é um posto telefônico na chácara e mesmo assim, eles não avisam, se eu não ligar, correr atrás, vir saber, ligar para ver o que é que esta acontecendo, não fica e passar para as outras meninas que não tem telefone de lá, de perto, aí tinha a de Padre Lúcio, eu ligo para ela para avisar para ela que tem alguma coisa, porque não vão atras para poder dizer.

P - A sua área é uma área enorme, tem quantas famílias que você disse?

R - Na, antes eram 400 e 20, aí dividiu, porque é muito grande para mim, eu sozinha tomar conta...

P - Você fazia sozinha?

R - Sozinha, aí dividiu como, tinha a minha suplente, eu falei, expliquei que eu não dava conta, porque elas queriam que eu visitasse uma vez por mês, toda família, não dava, em um mês só não dava conta, ainda mais área rural que, é chácara, é distante uma casa da outra, tinha vez que você faz quatro casas em um dia, porque é dois, três quilômetros de distância uma da outra, não tem como, aí foi dividido.

P - Você vai de bicicleta?

R - Antes, agora, depois que ganhei a bicicleta, porque antes era a pé.

P - Você fazia a pé?

R - A pé, isso carregando o quê, tem que carregar a pasta com ficha, a balança e debaixo do sol quente ainda. (riso)

P - (riso)

R - Cansada para caramba, aí dividiu agora com a minha colega, ela fica com 200 e poucas e eu fico com 200 e poucas.

P - Que é a média normal?

R - Não, a média normal é 170.

P - Cento e setenta?

R - Cento e setenta famílias, aí a minha está com 230 famílias, a minha área.

P - O que é que acontece na sua área, quais são os problemas que você encontra mais?

R - Os problemas mais é um acompanhamento de criança de gestante, porque existe um posto de saúde em Monte Alto, que é acima da minha área, só que é a mesma distância porque lá tem que pegar ônibus, você ir para Braslandia, como você ir à Monte Alto, então a pessoal de lá, fica sem usar lá, o pessoal reclama que não tem como pagar passagem quando está indo de Braslandia como para Monte Alto, não levam crianças para vacinar, não leva C.D., gestante não vai leva as vezes pré - natal, porque...

P - O que é que é C.D. ?

R - C.D. , é acompanhamento de criança, todo mês diário, acompanhar no peso...

P - Acompanhamento diário?

R - É, acompanhar o peso, vacina, se a criança está nutrida, se não está, se está com verme, a saúde da criança, C. D. da criança, aí, e aqui o pessoal não tem, lá não tem, nem que, eu dei a idéia para o doutor Gilmar, que a gente tem uma associação que está, a causa prontinha, como se posto aqui só que está abandonada, é do governo, área publica, a gente trazia de 15 em 15 dias, uma enfermeira, um médico, o que for, eu me, falei que eu fazia as fichas, levava as crianças, gestantes fazia esse acompanhamento, dentista uma vez por mês, que aqui tem um dentista, o dentista pode ir uma vez por mês, para olhar as crianças, aceitou adorou a idéia, mas ficou nisso, ninguém nunca, eu estou inclusive, a minha bicicleta está quebrada, porque lá, no morro, a erosão, você passa em buraco, não tem como não estragar e para arrumar, diz que tem que trazer aqui para arrumar, como é que eu vou trazer essa bicicleta aqui em Padre Bernardo para arrumar, eu estou andando a pé, o doutor Gilmar se comprometeu a ir lá, tem uns 15 dias, marcou comigo 5:00 hs. da tarde certinho, para mim esperar lá e a gente também ver se vai fazer esse C. D. com as crianças, tudinho na reunião que nós tivemos, certinho, até hoje nunca apareceu.

P - E você, teve muitos casos assim de, morria muita criança na sua região?

R - Não.

P - Não?

R - Graças a Deus, não.

P - Antes de você começar a fazer, acontecia muitas mortes?

R - Antes de conhecer, acontecia muitos acidentes.

P - Acidente?

R - Acidentes.

P - Que tipos de acidentes?

R - É criança, muitos casos de doença, principalmente com pneumonia.

P - Pneumonia?

R - Pneumonia, porque como aqui é uma área seca, na época da seca mesmo, problema de água muito grande ele tem porque é tudo a base de, seca, o pessoal vai lavar os carros na rua, tem que buscar água no rio, não tratam direito essa água para beber fazem com aquela água.

P - Você encontra muita doença nas famílias?

R - A maioria é doença respiratória.

P - É?

R - A maioria, bronquite, pneumonia, asma, problema de pressão, demais.

P - É?

R - Esses é os maiores problemas de doença aqui e diarréia, área rural né, até que agora, depois que está tendo um acompanhamento melhorzinho, que está controlando mais, mas esses são os maiores problemas.

P - E o que é que você fala para as pessoas, quer dizer, você dá alguma orientação?

R - Dou, porque convivência a gente aprende muita coisa, visitando as famílias e ensino o remédio caseiro, o chá caseiro (caramelado?) inclusive eu fiz na minha casa uma porção assim, de remédios caseiros, aí as pessoas vão lá buscar, depois eu ensino, alimentação alternativa, para as crianças que estão desnutridas.

P - O que é que são essas, alimentação alternativa, o que é que é?

R - São umas, a folha da mandioca, você secar e fazer o pozinho para poder misturar com a alimentação, a, o farelo de trigo torrado, o farelo de arroz, principalmente para gestante, que está amamentando, é ótimo, a casca do ovo, para a criança desnutrida e também o remédio de verme, porque as vezes, querem demais que a gente leve remédio de verme para criança e a gente não é autorizado a fazer isso, auto medicar, né?

P - Ha, ha.

R - Aí a gente sempre pede para eles irem ao posto, só que não vão justamente por esse motivo, é longe, não tem dinheiro para pagar a passagem e é isso que a gente está adotando, que vá pelo menos um médico, que ele vá, pelo menos uma vez por mês para olhar essas crianças, receitar.

P - Por que eles não vem?

R - Não vem, não adianta que não vem.

P - Continuam com verme?

R - Continuam, então você faz o quê, ensina o remédio caseiro, por exemplo, o...

P - Para tirar o verme?

R - Para tirar o verme, ai meu Deus, uma folhinha que você bate no leite, matruz, você bate com leite e dá para a criança, é ótimo para verme, mas nem toda criança tem o mesmo organismo e se dá como esse tipo de remédio, principalmente criança menor, que ele não tem um gosto muito bom, para tomar, é difícil, aí, a gente até hoje eu estou lutando com isso, que fiquei com isso mais de um ano, a Alzira também tentou conseguir isso, falei que as coisas são muito difícil.

P - O maior problema é o, a distância?

R - A distância e lá é assim, área rural, pelo menos para nós, que estamos mais distantes daqui, da cidade...

R - Eles são chacareiros, donos das terras?

R - Não, a maioria é, mas muitos são, caseiros, tomam conta dos outros, né?

P - De terras dos outros?

R - É, porque não tem onde morar e tomam conta, trabalham e tomam conta da terra deles.

P - E essas terras são de quem?

R - Ah, a maioria são gente de Brasília.

P - E compra e deixa ali...

R - É, deixa ali, não faz nada e para não ficar abandonado, tudo, eles deixam o pessoal morar, eles tomam, conforme o pagamento, tomam conta da chácara para eles.

P - Certo.

R - E a maior, o problema que nós temos atualmente é desnutrição.

P - Desnutrição?

R - Desnutrição de criança, porque a gente tem um programa de leite, mas esse programa vai até 2 anos, seis meses, que é o prazo da criança, devia ser o prazo da criança de amamentação no peito, dos seis meses aos 2 anos de idade, quer dizer, se a criança chegou aos dois anos de idade, não recuperou o peso, que eu acho super errado, tem que sair do programa, porque o programa só é até dois anos, como é que você já acostuma a criança pegando leite de 15 em 15 dias, a criança já está acostumada com aquilo, de repente, você vai cortar, porque o governo, porque a prefeitura impôs isso, que é só até 2 anos, como é que você vai dizer isso para a mãe, que está contando com aquele leite todo, toda quinzena e crianças de 3, 4 anos, nós temos um caso lá, uma criança, vai completar 4 anos agora em junho, ela tem ainda o peso, do tamanho de uma criança de 1 ano e meio, como é que você vai dizer que não vai dar o leite para uma criança dessa, uma família, a mãe é doméstica e ganha um salário, o pai também trabalha em roça, ele ganha 5 reais o dia, ele mal tem condições de sustentar, ele tem dois filhos, como é que você faz, você fica em uma posição muito difícil, eles ficam, te cobram demais, demais, pedindo uma coisa, pede mil e uma coisa, você não sabe o que fazer, o que dizer em uma situação dessas, dá vontade até de sair, porque, você chega aqui, pede uma coisa, pede para ajudar essa criança: " Não pode, não posso fazer nada, porque o governo não deixa, porque a prefeitura não deixa, porque não tem leite. ", o que é que você vai fazer, tem caso de idoso, tem o caso lá do senhor (Júlio?) ele tem 86 anos, ele teve derrame duas vezes, ele não come nada de sal, ele só toma leite, come mingau, leite com farinha e quem cuida dele, é uma filha que trabalha de doméstica e ganha 102 reais, o salário, tem dois filhos, como é que ela pode comprar leite todo dia para o pai, ela já tem dois filhos pequenos, conversei, vim aqui, conversei com a menina do leite, conversei com várias pessoas, aí pediram para mim dar o nome dele, para ver se, até hoje nunca foi feito nada e o senhor chora, por causa de leite, porque ele não toma, não come nada.

P - Só toma leite?

R - Só toma leite e o que é que eu estou fazendo? Pedindo ajuda aos vizinhos, né, para poder ajudar ele, porque pode, teve um caso aqui, que teve um recesso, como o prefeito tomou posse, agora em janeiro, aí ninguém sabia como ia ficar a situação da prefeitura, ficamos 12 dias, sem entregar o leite, esse leite ficou parado, ficou estragado, 200 litros de leite azedaram, estragaram, quer dizer, porque é que não deu esse leite, para a gente dar para essas famílias que precisam, que necessitam., a burocracia aqui é enorme demais, você não tem apoio de nada, de nada, de nada, tudo o que você precisa aqui, não pode, não tem condições, a prefeitura não tem verba, não tem nada, a minha bicicleta estava parada (riso) encostada, (não deu, não rodo), eu já, a gente recebe 112 reais aqui, eu pago 11 de passagem para vir receber e assistir a reunião, porque para mim vir assistir a reunião...

P - Vocês tem uma reunião mensal, como é?

R - Mensal, todo dia doze, se eu quiser vim, ir receber e assistir a reunião, tem que pagar a passagem, porque senão, perco a reunião e ninguém se interessa, quer dizer, exigem, se eu não entregar o relatório, eu não recebo, agora eu tenho que pagar a passagem para poder vir aqui e se não for relatório todo mensal lá para o PACS, eles não mandam a verba, dizem que o nosso trabalho, é essencial para a saúde, quer dizer, esvaziaram muito hospital, porque como a gente está acompanhando, a gente ensina chazinho caseiro, remédio caseiro, para evitar que as pessoas procurem um hospital, quer dizer, esvaziou bastante os hospitais, todo mundo, passa na televisão que o nosso, é o melhor serviço e mais barato do Brasil, é o nosso serviço e o mais eficiente, mas ninguém valoriza isso.

P - Mas, você acha que tem valor, qual é a sua opinião, você acha que o programa tem valor?

R - Eu acho que é essencial, tem muito e muito, porque por exemplo, a criança está com uma gripezinha, a mãe, principalmente a mãe que é a primeira vez que é mãe, corre para o hospital, tem uma criança com infecção e coisa, a criança contrai a doença ali, pega uma pneumonia, vira mais séria, você está acompanhando a criança direto, desde que nasceu praticamente, pesa todo mês, sabe como é a criança, o peso tudinho, pega uma gripezinha, você ensina para ela o remédio que cura a gripe, porque é que a mãe vai para o hospital? Quer dizer.

P - E o pessoal confia em você?

R - Confia totalmente, as criança já me vê, já corre: "Tia eu vou pesar hoje?", já me chama de tia, me chama: " a moça do leite.", eu sou mais a moça do leite, aí já pergunta que dia que eu vou lá, eles acostumam tanto, que quando a gente vai pesando as crianças de 15 em 15 dias, leva coisa, leva lanche para a gente, pudim, as meninas ficam boba de ver, com a gente lá, criança, até mais ou menos, tem assim, 90% das minhas crianças são vacinadas, quase não tem caso de falta de vacina, foi vacinado para febre amarela, daqui há uns 30 dias que nós, não, 20 dias que teve vacina de febre amarela, quase a população praticamente toda, foi vacinada, nós avisamos, compareceu o povo máximo, por exemplo eu cheguei a conclusão...

P - Apareceu alguém com febre amarela lá...

R - Não.

P - ... e vocês vacinaram, como é que é?

R - Não, é porque está tendo vacina, no Brasil inteiro.

P - Ah, está tendo vacinação?

R - Vacinação, a campanha né, então, a gente (chama?) tal dia para todo mundo ir lá, levar a crianças, leva cartão, pode contar que aparece todo mundo, em peso.

P - Para ir onde?

R - Por exemplo, na, no nosso caso está sendo na, na área da minha casa, porque a associação, nem uma local assim, por exemplo para a gente entregar o leite, para vacinar, fazer uma reunião, fazer uma palestra, nós não temos, tem a área lá, mas ninguém se interessa, eu venho aqui...

P - Que é essa casinha?

R - Essa casa, casinha não, é uma casa enorme.

P - É?

R - O salão grande, tem até uma outra...

P - É aonde você faz a entrega do leite?

R - Onde fazia, mas ficou assim, houve um redemoinho, quebrou as telhas, aí ficou assim abandonada, a gente pede apoio para a prefeitura, não pode, para poder passar uma máquina, para limpar, poder arrumar o telhado limpa, aí a gente está fazendo na área da minha casa, entregando leite, fazendo...

P - A entrega hoje então são vocês é que fazem?

R - Somos nós que fazemos, pesamos as crianças, controlamos as fichas, quem deve, quem não deve sair, quando o peso está bom da criança, quando não está.

P - E como é que vocês recebem o leite, a prefeitura leva?

R - Leva lá. P/1 Na sua casa?

R - Na minha casa...

P - Aí, você entrega para a família?

R - Aí deixa, deixa as fichas lá e o leite, enquanto eles vão fazer a entrega (eu uso?), quando eles voltarem, eles recolhem o leite que, por exemplo, se faltou uma criança, que não buscou, trazem de volta e trazem as fichas de volta, com os pesos, os dados tudo certinho anotado.

P - Bom, então esse negócio do leite aí, é um negócio reconhecido que você dá alguma coisa...

R - Depois, que começou esse leite, foi uma maravilha.

P - Porque aí, eles começam a te valorizar.

R - Valorizaram bastante e a respeitar mais, quer dizer, o pessoal já, já me tem assim como...

P - A moça do leite.

R - A moça do leite e como se eu fosse assim um tipo de um fiscal, eu vou lá olhar se a casa está limpa, se o quintal está limpo.

P - E eles aceitam, porque sabem que você também, é quem dá o leite?

R - É, porque eles aceitam, porque se eu por exemplo, eu chego e falo assim: "Ó, eu vou visitar a sua casa." , não falo o dia, eu chego de surpresa, né, então eu vou ver se, porque a gente dá um óleo, que é para você por aquela medida de soro caseiro, para misturar junto à mamadeira, ou em um copo de leite, como for que a criança tomou, que é para o intestino dela, o organismo funcionar melhor, eu olhava para ver se o leite está bem guardado, porque o leite não precisa de geladeira, ele é longa vida, porque tem muita gente que não possui geladeira, aí é só ferver o que abriu, eu vou ver se o leite está bem guardado, se o leite está dando direito para a criança, se o óleo está tampadinho, porque se não estiver tudo bem, eu vou cortar o leite e se eu peso a criança de 15 em 15 dias, se ela não aumentar uma grama, isso quer dizer que você está fazendo doce, está fazendo doce com o leite e não está dando para a criança e eu vou cortar e se não estiver vacinado também, eu não, ninguém pega o leite, aí quer dizer, eles ficam apavorados, porque tem que pegar o leite, então eles seguem as normas direitinho, aí eu chego em casa, olho, vejo se a casa está limpa, como é que a criança está, se o quintal, se tem fossa, se não tem banheiro em casa, aí a gente ensina a fazer uma fossa, fazer a latrina, sabe, porque não tem banheiro dentro de casa, é mais afastado da casa, ensina a criança, conversa com a criança, brinca, incentiva a criança a ajudar a mãe, a limpar o quintal, ajudar a mãe a varrer a casa, quer dizer, é um trabalho bom, gostoso, você passa a ser amigo daquela pessoa.

P - Eles sabem que você está fazendo uma coisa boa.

R - Estou fazendo uma coisa boa, estou fazendo o bem, eu não estou lá para falar mal dela quer dizer, eu estou ajudando no dia a dia, chego, tem uma casa, que é a casa da Rosa, ela morava assim, quatro pedaço de pau assim com uma lona em volta e umas telhas em cima, ela tem um casal de gêmeos que tem 1 ano e 6 meses, a criança estava com 4 quilos de idade, 4 quilos de peso.

P - Quatro quilos de peso, com quantos anos?

R - Quatro quilos como 1 ano e 6 meses.

P - Um ano e 6 meses?

R - A criança, você olhava assim para ela, você pensava que ela estava morta, a criança da cor de cera, desse tamanhozinho, a criança só gemia e ela tem seis filhos.

P - Nossa

R - Quer dizer, você tinha aquela sujeira, roupa espalhada, assim, um fogãozinho feito de pedra, para o lado de fora. No geral que eles falam, assim do lado de fora, aqueles pouquinho ali que tinha, uma sujeira, as crianças tudo sujo, você fica em uma situação dessa, você não sabe nem o que fazer, como é que você vai chegar para uma mãe dessa e falar para manter a casa limpa, se não tem casa, para varrer, lavar as coisas, limpar as coisas, se não tem nem aonde colocar, só tem um colchão para dormir, é uma situação difícil, aí, nós conversamos com o marido dela, explicamos tudo direitinho, eu fui, incentivei a ele,. Eu arrumei, ganhei umas telhas, falei com um pessoal, eles deram umas telhas usadas, aí o que é que ele fez, cortou certinho uns paus assim , fez em um tamanho, maior um pouquinho do que esse cômodo aqui, cobriu certinho, ficou até bonitinho, sabe, as ripinhas assim, tudo certinha, eles ganharam umas camas velhas, aliás, esse mês agora, eu fui visitar ele, terça - feira retrasada, as camas, as camas que ele ganhou, o bercinho, esticadinho, limpinha, fizeram assim, um armário assim, um tipo de pau assim improvisado as coisinhas brilhando, que nem em toda casa você vê, varridinho, limpinho, os gêmeos já estão, são gêmeos esses meninos, começando a se arrastar, agora umas três vezes que eles estão começando a engatinhar, aumentou o peso de 4 quilos já estão com 8 quilos, um com 7 e meio o outro com 8 quilos, quer dizer, você se sente bem, você chega elogia, fala assim: "Nossa, você está de parabéns, a sua casa está limpinha, está tudo bonitinho." , arrumou um filtro, agora tem água filtrada, aí tem um cachorro, a gente explica para não deixar o cachorro lá que os meninos estão começando a engatinhar, ela joga água, a gente ensina, a gente até leva assim, pinho sol, para jogar assim no chão, a gente elogia a mulher se sente bem, só alegria, quer dizer, a tendência é melhorar, você se torna amiga da pessoa.

P - É, do que você conheceu para hoje já melhorou muito, né?

R - Nossa Senhora, 100%, nem se compara, agora ela vive na beira da pia, que o marido dela vive pegando serviço aqui, outro ali, ela agora aprendeu a fazer tapete manual , está fazendo tapete, está vendendo, a pessoa vai, você se sente feliz, quer dizer, você não trabalha pelo salário, que pelo salário, pelo amor de Deus, 112 reais, o que é que você faz com 112 reais, 112 a gente paga a passagem, porque você trabalha porque gosta, eu gosto disso, você gosta, eu gosto de ajudar as pessoas, lidar com o povo, sabe, eu sempre gostei disso, se sente bem demais, você chega, todo mundo te reconhece, te convida, senta na casa dele, fala comenta, chega assim, a pessoa, crianças sai de desnutrição e entra com peso bom, aí a mãe sai assim, agradece demais se não fosse você, meu filho não sei, não estaria nem vivo e chega quase a chorar de agradecimento, que meu filho melhorou, está gordinho, está saudável, quase não vai mais no hospital, porque qualquer coisinha, a criança está com febre, está com dor, eles correm lá em casa: "Leda, minha filha está com isso e isso, o que é que eu faço?", aí, a gente ensina, orientação, se for um caso mais grave, lógico, aí a gente encaminha para o hospital, porque, não tem jeito, mas é muito raro, lá na minha área e da Lúcia caiu, reduziu em 50% casos de diarréia, pneumonia, diarréia, pneumonia e infecção de garganta, quase não tem, criança sem vacina, nossa tinha demais criança com 6 anos de idade que nunca tomou uma vacina, não tem quase nada.

P - Agora está tudo vacinado?

R - Tudo vacinado, muito, sempre tem umas exceções, que não escapa, tem sempre exceções que, tem um caso lá, de uma criança que os pais são de igreja, não me lembro qual igreja, não aceita que a criança sege vacinada, quer dizer, uma ignorância muito grande, a gente está tentando convencer essa família, isso é o tipo de processo lento., você tem que fazer amizade, a pessoa tem que confiar em você, é muito difícil, super difícil, e agora a gente está tentando, convencer o doutor Vilmar a ajudar mais um pouquinho a gente, mas também é muito difícil, a gente está tendo um problema sério com o doutor Vilmar, no PACS vamos ver se a gente resolve, né.

P - Bom, eu acho que, tem algum caso a mais que você lembre, porque esse caso dos gêmeos, eu acho que é muito interessante.

R - Nossa, se é.

P - Mas, assim outro caso de uma família, que também tinha um problema sério, que você ajudou, uma coisa assim?

R - Tinha, teve, na minha área teve.

P - Ã.

R - Foi, de uma menina, que ela não, a mãe dela é a, Simone, Simone? É, Simone a mãe dela, o pai, ela tem sete filhos, três não são desse marido dela e quatro são, o marido dela bebia demais, até que agora, graças a Deus, ele diminui bastante e ela trabalha de doméstica, a filha mais velha dela, teve que parar de estudar para tomar conta dos pequenos, para ela poder trabalhar e ele espancava demais as crianças, espancava mesmo, não batia não, espancava, já chegava dentro de casa, xingando todo mundo, as crianças, do mais velho, ao mais novo, daqueles homens mais bonitos, as crianças temiam de medo dele, ele bebia demais, essa mulher sofria demais, inclusive ajudava ela todo mês com a cesta para ela, porque ele não punha nada dentro de casa, mas ela ganhava 112 reais com sete filhos para sustentar, a gente ajudava todo mês com uma cesta para ela, dava arroz, ajudava, recolhia coisas para ela.

P - Essa cesta vem da prefeitura mesmo?

R - Não, isso, a gente, a comunidade, pedia para um para outro e formava uma cesta e dava para ela.

P - Sei.

R - A prefeitura nunca, a única coisa que a prefeitura deu, foi quando começou esse leite, só.

P - Sei.

R - Nunca e o programa de gestante e só foi isso não sei se eu te falei, já falei do programa de gestante, né?

P - Não, o que é que é o programa de gestante?

R - O programa de gestante foi assim, a gente reunia a gestante uma vez por semana e fazia a reunião com elas, dando a importância, explicando qual a importância da amamentação, do pré - natal, ensinando como ela devia amamentar a criança, em troca disso, para incentivar que elas fossem às palestras a gente ensinava elas a fazer as roupinhas das crianças, a prefeitura dava o material, os tecidos, as linhas tudo e a gente ensinava elas a costurar as roupinhas, a fazer pagãozinho, mijãozinho, manta, cueiro, ensinava elas tricô, croché, a fazer os biquinhos, fazia o enxoval completo e era super animado, elas riam, era super bom, demais, elas aprendiam, a gente ensinava para elas não usar mamadeira, bico, chupeta, (na?)criança, até como dar banho na criança a gente ensinava, ensinava tudo para elas, mãe a primeira vez, não sabia de nada, ensinava como era o parto, explicava do jeito que era, era ótimo, só que isso começou durante a política, os políticos é que davam material, acabou a política, nunca mais veio, nunca mais veio, até hoje as pessoas pedem, cobram da gente, só que a gente vai fazer o quê, a gente vai tirar do bolso da gente para comprar material, quer dizer, a reunião a gente pode fazer, mas se você não der nada em troca, elas não vão.

P - Não vão?

R - Não vão, o povo só funciona assim, vai se você der alguma coisa em troca, assim: "Se você for vai ganhar isso." Pode ter certeza que está todo mundo em peso lá, se não for, não vai nunca, eu sinto falta demais disso, era bom demais as reuniões, levava as crianças, mocinhas que as mocinhas já eram, a gente ensinava métodos anticoncepcionais, explicava sobre as doenças, era bom demais tanto para elas, como para os filhos, porque ela não sabiam de nada.

P - Caso de AIDS tem por aqui, ou não?

R - Não, a gente soube de alguns casos lá, aqui tem, na minha área, mas não foi assim confirmado, sabe, que a pessoa confirmava, porque a gente não vai obrigar, obrigar a pessoa a dizer, a gente sabia mas se ela não queria falar, a gente não fazia nada, tivemos casos, tem um caso de hanseniase na minha área, que agora é a área da Lúcia, , mas faz tratamento já, já está se curando da doença e voltando aquele assunto daquela menina, da Simone, aí, o vizinho chegou em mim, uma pessoa me procurou, me pediu segredo, que tinha visto, eles moravam na casa desse senhor, de favor, que ele cedeu a área, tinha uma casinha desocupada e cedeu, ele disse que um dia ele veio para olhar a chácara, chegou e disse que o pai dela, padastro, não é pai dela, estava estuprando essa menina e eu fiquei sem saber o que fazer, como é que a gente age em uma hora dessa? Eu cheguei, chamei a Alzira conversei, expliquei a situação para ela, ela falou: "Leda, eu vou falar com a assistente social." que era a Ines, que levava o leite, que agora ela foi embora , aí, a Ines falou assim, a Alzira falou assim: "Vamos lá, no dia do leite, acabou o leite, vamos lá nessa casa." Aí, eu fui, apresentei ela como a minha chefe, coordenadora, a Ines conta que ela fazia visita nas casas, aí foi apresentou, só que a mãe dessa menina, não sabia, que é a Simone, né, ela foi conversou com ela, conversou com a menina, sem falar a verdade, falou para ela prestar mais atenção na menina, para conversar com ela, sobre sexo, essas coisas se ela tinha, para a menina ter confiança nela que era mãe, falou muita coisa para ela, eu continuei, fazendo a visita, prestando mais atenção, mas, mais do que isso, eu, se a assistente social, que era ela, não fez nada, eu não podia fazer, eu não podia chegar e dizer para a mãe isso, que ela ia dizer que era mentira minha e eu ia ficar como, no meio dessa historia e ficou um jeito assim muito esquisito, até de eu ir visitar essa família, sabe, sabendo disso e conversando com a mãe, sem a mãe saber e a menina passando por isso aí, ficou uma situação muito difícil.

P - Esse não é o mesmo que espancava?

R - É, o mesmo.

P - O mesmo que espancava.

R - O mesmo, o mesmo cara, a mesma pessoa.

P - Bom, aí, extrapola o caso de saúde e vira um problema quase policial, né?

R - Pois é, aí eu já passei para a assistente social por causa disso, ela não tomou nenhuma posição, só, ela não tomou, a Rosi que era nossa coordenadora, se dispôs ir lá, que conversou com ela, que sempre ia lá para conversar e tudo, tipo de uma orientação para a mãe prestar mais atenção na filha, uma mocinha, né? É uma situação muito complicada, agora, graças a Deus, ele parou de beber um pouco, a casa deles estão, comprou móveis novos para dentro de casa, móveis novo, está melhorando um pouco, mais a outra situação, não sei como é que fica, porque eu não, não tinha como resolver, os casos mais graves que teve na minha área, foi esse, agora os outros casos é casos assim da mãe ser muito desmazelada, ter que ser com tempo, para ir conversando e vai contornando a situação, graças a Deus, nós estamos, de um tempo para cá a minha área melhorou muitao, é uma das melhores áreas era a minha, porque o pessoal lá é compreensível, se eu chegar assim, tal dia eu quero que vocês façam isso, isso para reunir e eu vou na sua casa, a gente vai fazer isso, você pode contar que a hora que você chegar lá está prontinho, quer dizer, eles já tem uma confiança em mim, já tem um certo respeito, se eu for falar isso, eles sabem que isso é que é o certo, vão e fazem, sem medo.

P - Mas você acha que eles fazem isso, só porque o leite, vai cortar o leite, ou não?

R - Não, eu não digo isso para as pessoas, que pegam leite, mas nem todas, lá na minha área, são 18 pessoas só que pegam o leite.

P - Ah, 18 ?

R - Dezoito, tranqüilo, todos eles, justamente por isso, porque eles vêem que eu ajudo as pessoas, que estão precisando do leite, aí, eu explico isso, porque se ela está só fazendo por isso, quer dizer que vai fazer o melhor parar mim também, eles confiam, tem uma confiança, se eu disser que é esse chá vai melhorar isso, eles estão certos que vai melhorar, se eu falo assim: "Leva para o hospital para fazer isso, isso.", explico direitinho, parece que eles vão certinho e fazem, tem um, uma senhora lá que, lá que trabalha no hospital, quando é um caso assim mais grave, eu pego o cartão, peço para ela marcar, ela já me conhece né, vai e consegue marcar essas consultas para mim, já me conhece, vai marca, o pessoal, três anos também, o pessoal já conhece, já sabe, confia né, a gente trabalha mais por prazer e não por salário, por benefício, porque não tem nenhum, porque nós não temos direito a férias, 13º, fundo de garantia, agora segundo a secretaria, nem licença maternidade, não tem mais, quer dizer, você trabalha por amor, porque você gosta, porque pelo resto.

P - Pelo menos você sabe que você está fazendo uma, algo de muito bom para a sociedade.

R - É, isso, isso é que gratifica, você está fazendo um bem, não porque você vai ganhar alguma coisa em troca, e se for esperar por isso, você....

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